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sábado, 27 de janeiro de 2018

CONSTRUINDO A BASE. Me explique, por favor !



Dia desses li no Instagram não me lembro de quem (juro) onde estava escrito algo parecido com:

"Pouco mais de 900km em nove dias (ciclismo) e assim fechamos a base do início do ano".
Era um grupo de triatletas na foto, pela hashtag que vi.

Entendi.
Aliás, acho que na verdade não entendi.

Todos os anos eu fico me perguntando sobre essa tal de "construção de base" que todos utilizam volumes imensos para alcançá-la.
E fico me perguntando também quais as informações preliminares fisiológicas que determinam que VOLUME gera construção de base.

Rodar nove dias fazendo 30km de corrida todos os dias pra "Construir Base" ninguém quer, né ??

Quanta PERDA DE TEMPO !!


Logo após eu finalizar essa postagem em uma rede social, o professor titular da UNIFESP em Santos, Paulo Azevedo, mestre em Fisiologia Humana e do Exercício e Ciências do Movimento, escreveu:

 Silvão, 
o que as evidências nos permitem concluir:


1-Periodização do treinamento é uma arte, e carece de suporte científico;

2- Qual o objetivo da “base”? Se for um atleta de alto nível esta base já está feita pelos anos de treinamento. Acredito que o que você viu no post não eram atletas de alto nível (mundial), então a melhora do VO2max e capacidade aeróbia são os objetivos;

3- Para atingir tais objetivos a distribuição polarizada das cargas (nos artigos chamam de periodização polarizada) tem se mostrado mais efetiva. Cerca de 70% do volume de treinamento é prescrito na intensidade do 1º limiar ventilatório (1º LV), 10% no 2º limiar ventilatório, e os 20% restantes entre o 2º limiar ventilatório e a intensidade associada ao VO2max (iVO2max);

4- Apesar do objetivo final ser a melhora do VO2max e capacidade aeróbia, cada um destes índices fisiológicos induz a respostas agudas e crônicas específicas. Por exemplo: treino no 1º LV induz ao aumento do número de mitocôndrias, e o treino na iVO2max induz ao aumento no tamanho das mitocôndrias. O que quero mostrar é que você tem razão no seu questionamento: o que o cara pretende com a tal base? Se ele fizer um teste ergoespirométrico (com protocolo adequado – validado) o Fisiologista conseguirá detectar qual o indicie fisiológico que deverá ter prioridade nos treinos. Seguindo o raciocínio, o volume alto poderá ser adequado para uns, mas não para outros; e o mesmo podemos dizer para o treino intervalado na iVO2max durante a “base” ou em outro período dentro do planejamento;

5- Calcular o volume total do período planejado (macrociclo) e distribui-lo em períodos menores (mesociclo, microciclo, sessão de treino e unidade de treino) não é algo fácil, e atualmente me traz duvidas maiores, principalmente pelas evidências contra a periodização. No triátlon tem o complicador de ser uma modalidade pluri-esportiva.

Valeu pela oportunidade. 
Disseminar um pouco das evidências científicas sobre fisiologia aplicada ao treinamento é importante para os professores de educação física e atletas, e acho que era este o objetivo da sua postagem!

Abração

Referencias
Adrian W. Midgley, Lars R. McNaughton and Michael Wilkinson. Is there an Optimal Training Intensity for Enhancing the Maximal Oxygen Uptake of Distance Runners? Empirical Research Findings, Current Opinions, Physiological Rationale and Practical Recommendations. Sports Med 2006; 36 (2): 117-132
John A. Hawley and Fiona J. Spargo. Metabolic Adaptations to Marathon Training and Racing. Sports Med 2007; 37 (4-5): 328-331.
Edward F. Coyle. Physiological Regulation of Marathon Performance. Sports Med 2007; 37 (4-5): 306-311.
Goutianos, G (2016). Block periodization training of endurance athletes: A theoretical approach based on molecular biology. 4(2): e9.
Irineu Loturco and Fabio Y. Nakamura. TRAINING PERIODISATION AN OBSOLETE METHODOLOGY? Available at www.aspetar.com/journal
José Afonso, Pantelis T. Nikolaidis, Patrícia Sousa and Isabel Mesquita. Is Empirical Research on Periodization Trustworthy? A Comprehensive Review of Conceptual and Methodological Issues. Journal of Sports Science and Medicine (2017) 16, 27-34.
SYLTA, K., E. TKNNESSEN, D. HAMMARSTRO¨ M, J. DANIELSEN, K. SKOVERENG, T. RAVN, B. R. RKNNESTAD, K, SANDBAKK and S. SEILER. The Effect of Different High-Intensity Periodization Models on Endurance Adaptations. Med. Sci. Sports Exerc., Vol. 48, No. 11, pp. 2165–2174, 2016.
Thomas Stöggl and BillySperlich. Polarized training has greater impact on key endurance variables than threshold, high intensity, or high volume training. Frontiers in physiology. February2014|Volume5|Article33

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