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quarta-feira, 6 de setembro de 2017

NATAÇÃO - TRAVESSIA DO RIO PARANÁ - 1982



O ano era o distante 1982 do século passado, e eu com 16 anos.
Pela primeira vez a Liga Santista de Esportes Aquáticos resolveu formar uma equipe da cidade para participarem da tradicional "Travessia do Rio Paraná", que acontecia anualmente na cidade de Panorama, divisa com o Mato Grosso, e que já iria para a sua 17a edição, sempre no feriado de 7 de setembro.

Naquela época não existiam "rankings" de Águas Abertas para se definir os 10 atletas que iriam representar a cidade, então os treinadores dos principais clubes ( Saldanha da Gama, Vasco da Gama, Regatas Santista, Internacional de Regatas, Santa Cecília ) resolveram classificar os atletas após uma prova a ser realizada entre o então recém construído Emissário Submarino até a Ilha Porchat.

Então, em um sábado, todos os atletas interessados se reuniram ali do lado esquerdo do Emissário. O circuito compreendia contornar o emissário e a Ilha Urubuqueçaba e seguir em direção à Ilha.
Sem bóias de orientação, sem salva-vidas, sem Bombeiros, sem resgate. Era cada um por si e com o consentimento prévio de cada pai envolvido na questão, já que todos eram ainda menores de idade.

Naquele dia, para piorar ainda mais as condições, quebravam ondas de bom tamanho no Quebra Mar. E lá fomos nós todos naquele desafio perturbador. Fosse hoje, evidentemente que ninguém autorizaria tamanha insanidade.

Fui 11o. Classificavam , repito, dez atletas.
Os atletas classificados teriam todas as despesas de viagem, acomodação e alimentação pagos pela Secretaria de Esportes de Santos.

Existiam alguns bons atletas de travessias de São Vicente ( José Renato Mosquito, Saulo Tadeu Appes e alguns outros ) que tinham muito interesse em participar e, não me recordo ao certo como foi conseguido nas tratativas, mas em casa chegou a informação de que se meus pais pagassem apenas a passagem, que acomodações e alimentação estariam garantidos.
Meu pai garantiu a passagem.

Ahh, a viagem. A viagem seria de trem, cruzando o estado, praticamente o dia inteiro de viagem. Saímos de Santos da Estação da Estrada de Ferro Sorocabana, ali na Ana Costa, em direção à Estação da Luz. Da Luz, outro trem em comboio até Panorama. No total, 19 horas de viagem.
O grupo era grande.
Os atletas do masculino e feminino representando a cidade, aproximadamente uns 10 atletas que pagavam suas viagens e um grupo grande de Salva-Vidas do Grupamento de Bombeiros que iriam também por sua conta competirem lá.

A viagem, naquele ano, foi conturbada. Nosso grupo ocupava exclusivamente o último vagão do trem, e os outros eram lotados de malucos que se dirigiam para Águas Claras, já que o evento do ano naqueles tempos era o "Festival de Águas Claras", que acontecia em Iacanga, perto de Bauru, e era uma espécie de "Woodstock" brasileiro.
E os bombeiros não aceitavam passivamente aquele cheiro insuportável de maconha que insistia em vir dos vagões da frente até que a trupe do rock desembarcasse em seu destino.

Enfim.
Após intermináveis 19 horas de viagem, lá estávamos todos nós em Panorama.
Me recordo como se fosse hoje os atletas da equipe santista sendo levados para uma escola, que serviria de "alojamento" para todos, enquanto nós, que havíamos pago nossas passagens, fomos levados para um hotel um pouco distante da cidade, cerca de 1,5km de lá.
Mas o hotel era espetacular para os confortos da época. Quartos confortáveis, excelentes refeições ( comia-se peixe fresco todos os dias ) , e tudo de graça.
Evidentemente que aquilo serviu de provocação para brincadeiras entre os atletas, e não perdíamos a oportunidade por nada.

Panorama era uma cidade minúscula, e os santistas já eram conhecidos por lá.
O paranaense Paulo Roberto dos Santos ( Paulo Paranaguá ) já havia vencido essa travessia dois anos antes, em 1980, em um trajeto de aproximadamente 2,5km, que saía do outro lado do rio e atravessava até as margens da cidade. Em 81, Paranaguá venceu a travessia longa que acontecia em outra época, em março, em um percurso de 22km.
Paulo era um dos grandes nadadores brasileiros à época e nadava no Clube de Regatas Vasco da Gama.

Não havia muito a fazer naquele lugar. Era acordar, se reunir para nadar no rio, que todo mundo se cagava de medo em função das histórias de piranhas que a população insistia em nos reforçar, almoçar, descansar, conversar e dormir.

No domingo, a Travessia. Éramos todos levados em um barco de um lado para o outro do rio, e não existia atracadouro. O barco encostava na margem e era cada um por si para descer do barco e aguardar a chegada de todos os atletas até a largada. A correnteza era imensa. Aquela travessia de 2,5km era feita em pouco mais de 10 minutos. De natação mesmo penso que fazíamos uns 700 ou 800 metros. O grande problema era acertar a correnteza para entrar no funil sem ser levado pela correnteza.
Muitos atletas favoritos perdiam a entrada e não se classificavam.
Fui quarto naquele ano. Ganhou o Jose Ricardo Dutra Dutra. Não me recordo ao certo o resto do pódio, mas só deu Saldanha aquela edição.
Depois, ainda fui no ano seguinte competir naquele lugar, e fiz terceiro.

Quem viveu aqueles tempos e aquele evento lembrará muito bem do que descrevo aqui.
Quanta saudades bate ao relembrar o passado.

Esse ano será realizada a sua 52a edição, e pela foto do barco que transporta os nadadores até a outra margem e que ilustra esse texto, percebe-se que pouca coisa mudou.
Que bom !!

Viva a natação !

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